Discurso de Encerramento do Ano de 2019

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Nesse encontro, o último de 2019, avivamos na memória os eventos significativos que marcaram, no corrente ano, a profícua gestão de nosso Presidente Claudio Santos e de sua Diretoria, com a reverencia a merecer registro na pedra evocativa.
Nesse período, o Direito sempre saiu triunfante, pela palavra de nossos convidados e homenageados e pela expressão dos nossos membros efetivos, trazendo o clamor da nação insatisfeita, mesmo nesse seminário, dedicado que é ao tranquilo estudo das leis e dos códigos.
Não decepcionamos a nação, nem deixamos de discriminar entre o que importa à sorte do país e os lances de embates, porque temos compromisso com a defesa do estado democrático de direito. Nossa convenção maior é com a ordem jurídica, por vezes objeto da sanha incontida daqueles que desejam sua ruptura e o consequente retorno ao estado de exceção, com práticas abomináveis de triste memória, que o Brasil já conheceu e saiu vitorioso, décadas passadas.
Nosso bem maior é a lei, que o estado democrático de direito exige e consagra. É o que o pontífice máximo dos tribunais brasileiros, o grande Rui Barbosa, proclama para, por todos, ser ouvido: “Legalidade e liberdade são o oxigênio e o hidrogênio de nossa atmosfera profissional. ”

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Duas grandes forças, meus colegas e preclaros amigos, presidem a marcha implacável da História das nações: a tradição e a criação. Constitui, a primeira, a tradição, o espírito comum da nacionalidade, que se perpetua pela sequência das gerações. Ao passo que a força de criação é apanágio do espírito próprio, é o avanço, a transformação, caracteres distintos do espírito comum.
Da conjugação dessas duas formas de espirito poderemos dirigir uma linha de pensamento fecunda, de tal sorte que produza entusiasmo e glória a toda nacionalidade. Elas se intercomunicam, as duas forças. Uma não pode viver sem a outra, se o país deseja prosperar e seguir caminhando a cadencia inexorável da vida da humanidade em demanda do seu futuro.
O que é igual repousa, o que difere fecunda, dizia Goethe. O erro vem da semelhança, o acerto da dissemelhança, sentencia Platão. É preciso diferençar para avançar. No meio da noite escura, até os incrédulos se orientam pela marcha dos astros.
Há grande temor pelo futuro. O mundo tem medo de si mesmo. Mas o mundo é um conceito sagrado, não profano. Mesmo na adversidade, ainda que vivendo o temor da crueldade das incompreensões e dos fanatismos, os homens de amanhã, mais do que nós, permitindo que a experiência da partilha e da justiça distributiva se dê nas nações mais ricas – uma experiência que o mundo ainda não viveu –, haverão eles de seguir o seu destino majestoso, de resplandecer para as gerações seguintes, por terem permitido que a imensa riqueza concentrada em poucas mãos, um dia, possa ser concretamente inventariada e repartida.

Na corporação da justiça nunca perdemos a fé. Sobram em nossos corações reservas de crença no aperfeiçoamento das gerações, como se os mais jovens nos comunicassem o calor da confiança com que despertam para o mundo.
Continuamos a agir e a esperar uma humanidade ideal, não comprometida com os erros das ambições das criaturas, da mesma forma como as vagas de superfície, vistas do alto, não turvam, aos olhos dos aeronautas, a limpidez profunda do mar.
Saúdo a todos, com grande agradecimento, em meu nome próprio e em nome da Presidência e da Diretoria do Instituto dos Advogados do Distrito Federal.

(DISCURSO-IADF-PEDRO GORDILHO)